terça-feira, 23 de março de 2010

Que tempo e espaço é esse que se esgarça quando estou diante de um objeto de arte?

Apesar de uma obra de arte pertencer a um dado tempo e espaço, ela não fornece de imediato este enquadramento histórico a um observador que com ela se relaciona pela primeira vez. O que quero dizer é que a obra de arte tem o potencial de ampliar a concepção de tempo e espaço, pois através dela vagamos em nossas memórias, sentimentos, lugares vistos, vividos ou imaginados. Cito um poema de Caio Fernando Abreu que pode ilustrar esta sensação de pertencer ao mundo e ao mesmo tempo estar só:

"De repente, estou só. Dentro do parque, dentro do bairro, dentro da cidade, dentro do estado, dentro do país, dentro do continente, dentro do hemisfério, do planeta, do sistema solar, da galáxia - dentro do universo, eu estou só. De repente. Com a mesma intensidade estou em mim. Dentro de mim e ao mesmo tempo de outras coisas, numa sequência infinita que poderia me fazer sentir grão de areia." - ABREU, Caio Fernando. Inventário do ir-remediável. Porto Alegre: Sulina, 1995.p.66

E para instigar ainda mais... uma imagem do trabalho de Cristiano Lenhardt que nos faz pensar em muitos momentos do nosso "ao vivo" do dia a dia.


Ao Vivo, 2002. Cristiano Lenhardt




Um comentário:

Clarissa Bocklage disse...

Legal trazer à tona a questão da memória, como ferramenta de trabalho, como tempo e espaço que determina, de qualquer forma, o resultado da obra...
Estamos realmente sós, isso é inexorável: ainda bem que temos uns aos outros.