domingo, 10 de abril de 2011

Por uma Educação Circular

Arte Vida Tempo Espaço


Qual o tempo que a gente tem? Qual o espaço que a gente tem?

Dizemos que temos pouco tempo. Muitas coisas a fazer e falta tempo. O tempo é curto. Mas às vezes, passa tão devagar naquele espaço que chamamos escola. Mas quando a gente olha para trás: passou tão rápido, parece que foi ontem.

Quem inventou a escola?
Quem inventou o professor?
Quem inventou o aluno?
Quem inventou este espaço que chamamos de sala de aula?
Quem disse que tem que ser assim?

Espaço quadrado, classes quadradas enfileiradas, quadro negro quadrado.

Quem sabe um espaço circular, sentar no chão, em roda, pernas cruzadas, pés na terra, debaixo de uma árvore, acima de suas raízes, brisa leve, canto dos pássaros.



Quem sabe uma escola que ofereça espaço e tempo para infinitas possibilidades de aprendizado. De troca. Onde ouvimos e somos ouvidos. Sentimo-nos bem. Queremos o bem. E os aprendizados levamos para a vida toda.

Nas aldeias dos povos indígenas, que nós civilizados chamamos de selvagens ou primitivos, não existe escola, nem há o menor sentido para existi-la. A escola é tudo, e tudo é aprendizado, os professores são todos, inclusive a própria natureza, e todos são alunos. Uma escola aberta para alunos livres.
Os menores aprendem com os mais velhos, que já viveram mais e tem mais sabedoria. Aprendem a fazer um pouco de tudo que precisam saber na vida. Plantar, colher, pescar, construir uma morada. E há muito tempo para criar e celebrar. Cantar, dançar, contar uma história, fazer uma peça de cerâmica, adornos de penas, pinturas corporais, trançar uma cesta.
Há espaço para a beleza, harmonia e alegria.
E tudo é arte.



E nós, seres civilizados, passamos maior parte do tempo trabalhando para os outros, para acumular. Colocamos nossos filhos naquele espaço quadrado que chamamos escola. Para ocupar o tempo das crianças e prepará-lo para esta forma “elevada” de viver.
E não temos tempo.

Um dia perguntaram ao Dalai Lama, um mestre budista tibetano: o que acha mais incrível na humanidade?
e ele respondeu:
“Os homens,
pois perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido.”

(sobre as imagens: a primeira é uma peça de cerâmica que fiz inspirada numa escola circular, a segunda é uma contação de história para crianças durante o evento 108horas de Paz e a terceira é uma ciranda durante o Educação Gaia 2010, ambas fotos tiradas no Instituto Caminho do Meio, Viamão)

3 comentários:

Anônimo disse...

adorei, guada.
vou indicar no twitter.
que bom que tens essa visão elevada. não seria mesmo possível não a ter, já que és professora da escola de nosso querido e sábio lama samten. parabéns! boa sorte e bons estudos na faculdade. eu fiz um site parecido com teu blog, se quiser dar uma olhada: http://curapelosimplesrepousar.webs.com. abraço. carinho. leonardo padma detchen dorje

sandra disse...

Guadalupe,
Fiquei sem palavras de tanta emoção... Lembrei da sensação que tive quando entrei pela primeira vez na Escolinha de Educação Infantil na CEBB de Viamão...
A sensação de quem trabalhando a mais de 15 anos na área de educação entrou na escola que sempre sonhou... A riqueza de sua comunicação em palavras e imagens contiua ecoando... Txaí... é um cumprimento indigena que aprendi recentemente que vale apena pesquisar
(http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/848350/)

Maria das Graças Portugal disse...

Seu exemplo, com certeza, vai fortalecer os sonhos de muitos professores que anseiam por uma oportunidade como essa. O importante é continuarmos divulgando que isso é possível e já acontece.

Maria das Graças Portugal