Educação Pública
Outro dia eu estava em uma reunião escolar dirigida a pais, dessas que quase todas as escolas realizam no início do ano letivo. Em determinado momento, uma mãe disse ao diretor, que esclarecia as dúvidas de alguns pais: “Estou cansada de ter de ouvir questões que não têm relação com meu filho. Creio que as reuniões devem ser de cada professor com os pais de seus alunos porque só temos interesse nos nossos filhos.”.
A fala dessa mãe é bem representativa: estreitamos muito nossa visão quanto à educação e privatizamos totalmente nossos interesses em relação a esse assunto. Só temos interesse real naquilo que atinge nossos interesses ou os dos nossos filhos. Acontece que a Educação é um tema que deve interessar a todos já que ela é um dos elementos mais importantes na construção de nosso futuro.
Uma confusão grande que fizemos foi a de fazer uma diferenciação entre a educação escolar praticada nas escolas públicas e a nas escolas privadas. Na verdade, a educação é sempre pública. O que significa isso? Que os alunos, além do acesso ao conhecimento, devem aprender no espaço escolar os valores comunitários e a convivência respeitosa, justa e democrática, se é que queremos mesmo garantir um estado democrático.
É nesse contexto que precisamos pensar a escola pública. Vamos lembrar que a maioria dos alunos no Brasil freqüenta a escola pública. O censo de 2007 mostrou que, dos 52.969.456 alunos matriculados no ensino básico, apenas 6.358.746 frequentaram escolas privadas, ou seja, apenas 12% do total. Bem pouco, não?
Por isso, se não investirmos todos na escola pública, comprometemos nosso futuro e o de nossos filhos, mesmo que eles freqüentem uma excelente escola privada. É disso que a Giulia fala em seus comentários.
Como a classe média tem optado por matricular seus filhos nas escolas privadas, deixou de se interessar pelo que ocorre nas escolas públicas. Vamos analisar a conseqüência disso para perceber como podemos colaborar, como cidadãos, para melhorar a educação escolar no país e não apenas para desfrute próprio.
Quando um problema acontece em uma escola privada, logo os pais se movimentam e, como a Giulia bem observou, como é uma classe que tem influência de grande alcance social, como na mídia, por exemplo, logo a escola trata de propor ou encontrar soluções para a situação. Claro que isso pode provocar confusão, principalmente a respeito da educação identificada como prestação de serviço, mas que é um mecanismo importante de regulação social para a escola, sem dúvida é.
E na escola pública? Frente a algum problema, os pais até podem se reunir para reclamar, mas suas reclamações em geral não encontram eco social. Nós não temos a melhoria da escola pública como uma prioridade, essa é a verdade. Quando ficamos sabendo de algum problema até lamentamos, reclamamos, mas em geral não tomamos atitude alguma.
É preciso lembrar que o acesso ao comportamento civilizado e à cidadania não ocorre por mágica ou milagre: é um processo educativo e parte importante dele é de responsabilidade da escola. Os alunos que não têm a oportunidade desse aprendizado na escola que freqüentam conviverão, mais tarde, de igual para igual na vida pública, com os que tiveram. E então, o que acontecerá com a sociedade se eles forem a maioria?
Nenhum comentário:
Postar um comentário