terça-feira, 18 de março de 2008

Pensar na educação de artes já foge, na maioria das vezes, dos padrões de ensino regular no país. A educação brasileria não abre muito espaço político para matérias como: música, teatro e artes visuais. Apesar de estar na Lei de Diretrizes e Bases de 96 a obrigatoriedade do ensino de educação artística, este nem sempre é ministrado por professores qualificados e não significa a obrigatoriedade das três áreas artísticas dentro de uma escola, deixando assim, os alunos sem opção entre qual aula de educação artística eles querem ter.
Analizando a nossa constituição, a realidade brasileira e a citação de Nilda Alves¹transponho-a para o ensino de teatro e modifico-a para: O teatro deveria, mas, não tem todos os tempos e espaços. Quando há teatro no currículo de uma escola disponibilizam no máximo dois períodos semanais, podendo estar divididos em dias diferentes. A própria organização do espaço em que será trabalhado requer um certo tempo para organização, por mais que os alunos possam ser (e geralmente são) dispersos pelo espaço, é necessário chama-los para as atividades, explicar claramente o que será feito, faze-lo e ter no mínimo 10 minutos para discutir o que foi feito, visto que o teatro, bem como as outras artes e a filosofia, desempenha um papel fundamental na formação crítica do aluno.
O teatro, como arte tradicional, exige também uma adaptação não só do tempo em seu sentido mais comum, mas, como o tempo em que vivemos, como fazer os alunos interessarem-se por uma arte que não é valorizada? Como faze-la mais interessante que a televisão, a internet, o cinema e todo o glamour que ela parece propor? Tenho amigos, que vão ao cinema uma vez por semana e não chegam a fazer uma visita por ano ao teatro. Não podendo ignorar a existência desses recursos tão mais, rápidos e fáceis devemos nos aliar a eles. Utilizando-os como ferramenta para as aulas, quase que disfarçando a aula de algo que vá atraí-los mais.
E é incrível como podemos tranquilamente utilizar certos exercícios de teatro em outras matérias sendo a parte mais divertida da aula e muitas vezes estes mesmos alunos não gostam da aula de teatro.
Apesar de concordar e pesquisar a utilização do teatro como recurso pedagógico para o ensino de outras matérias, sou absolutamente contra a banalização do teatro, como algo que todos podem lecionar. Todos podem utilizar jogos teatrais como ferramenta, mas, requer o mínimo de estudo e consciência, o teatro é também algo perigoso, ainda mais nos dias de hoje que temos alunos cada vez mais retraídos devido a utilização da Internet como meio de comunicação. O teatro expõe o aluno de uma maneira que nenhuma outra matéria expõe, isto é muito perigoso, podendo gerar traumas.
O teatro não tem realmente todos os espaços e todos os tempos, mas, depende muito mais de nós, professores e estudantes para passar a ter. Realmente todos os lugares podem ser adaptados para uma aula de teatro , mas, será que nós temos no mínimo um lugar? O teatro existe a tanto tempo, que acredito que sempre existirá, mas, será que existe hoje?
Tudo é possível no teatro, e eu sigo a corrente que através do jogo você SEMPRE aprende alguma coisa, mas, precisamos do mínimo para atingir o máximo, e este mínimo nem sempre nos é dado.

¹Quando e onde se ensina e se aprende?...em todos os tempos e espaços. Alves, Nilda. Linguagens, espaços e tempos no ensinar e aprender- Rio de Janeiro: DP&A, 2000

Um comentário:

camila galarza disse...

Olá!!!
Com relação ao tempo, é incrível imaginar que uma aula de teatro tenha apenas dois períodos e eles são separados. Com a importância dada a formação do trabalhador de hoje em dia, muitas aulas de “artes” (em geral) foram substituídas pelas de técnicas. Por exemplo, eu na escola estudei técnicas domésticas e nunca tive um período sequer de teatro. O teatro era uma atividade a parte, que só quem realmente queria, participava. A turma no colégio tinha no máximo 10 alunos, sendo que o total de alunos no colégio devia ser em torno de 600. Chega a ser ridículo falar isso.
Quanto a tornar arte mais interessante que a televisão ou internet... acho que é uma questão de cultura mesmo, porque é visível que a nossa cultura não recebe o valor (em todos os sentidos) que ela merece. O que pode ser feito para mudar isso? De onde podemos/devemos partir?
Falando em banalização, foi como disse antes, os exercícios de teatro e artes podem ser dados em qualquer disciplina e isso pode causar traumas sim, nos dois casos...