terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os tempos e espaços destinados ao teatro na escola

O texto que escolhi para postar aqui é um trecho do artigo "Multiplicidades da cena contemporânea e suas implicações no ensino e na pesquisa com teatro", do Prof. Dr. João Pedro Alcântara Gil, professor e atual chefe do Departamento de Arte Dramática da UFRGS.

Escolhi este trecho do artigo porque fala sobre como a prática de teatro é usada para auxiliar o desenvolvimento de conteúdos de outras disciplinas do currículo escolar. Provavelmente, todos nós fizemos alguma atividade teatral na escola comandada/sugerida pelo(a) professor(a) de história, litaratura, religião... Nas escolas em que estudei não havia aulas de teatro. Nas aulas de artes - ou "Educação artística", como preferirem chamar - geralmente trabalhávamos com técnicas de desenho e artesanato em geral. As poucas atividades relacionadas com teatro eram desenvolvidas pelos professores de outras disciplinas como método para trabalhar o conteúdo de forma mais divertida e dinâmica.

Acho, sim, muito válida esta prática, mas me pergunto o quanto o teatro - como arte propriamente dita - não poderia ser trabalhado dentro do tempo e espaço destinados às artes visuais.

Convido-os, então, a acompanhar o texto que eu trouxe e compartilhar desta reflexão comigo.Obviamente, quaisquer outros questionamentos e reflexões serão muitíssimo bem-vindos.

"(...) Não é difícil entender a lógica tecnicista. A reprodução dos valores e concepções dominantes na época tornaram o produtivismo e a eficiência a curto prazo como normas para a sociedade. Os meios para atingir estas metas eram priorizados em detrimento da qualidade na formação dos professores. Por sua vez, considerando que o desenvolvimento é previamente planejado, o tecnicismo também se aplicou ao teatro para desenvolver técnicas de ensino eficientes e produtivas. Importa aqui resolver as dificuldades de aprendizagem como se a arte fosse um remédio. Neste sentido um bom número de trabalhos é publicado na perspectiva de solucionar problemas, especialmente de alfabetização, sem possibilidades para a reflexão. A pedagogia tecnicista na arte buscou atender à divisão social do trabalho, através da criação de cursos rápidos de formação. O teatro “servia” nesta tendência como facilitador dos processos de aprendizagem e aglutinador das diferentes modalidades artísticas. A ênfase dada aos meios e não aos fins, a quantidade e não a qualidade impõe uma prática artística e pedagógica centrada não em si mesmo, mas no conhecimento alheio. Para tanto o teatro é muito útil, na medida em facilita a aprendizagem de forma mais prazerosa. Para os autores desta corrente o teatro é um meio natural de estudo. A representação de fatos históricos é exemplar para caraterizar o teatro como forma de instruir, divertindo. O método dramático para “transmitir” conteúdos é divulgado na disciplina Didática como “dramatizações”, técnica de ensino eficiente para a aprendizagem. A arte enquanto obra, isto é, um objeto fabricado, um produto, tal como uma escultura, uma música, uma peça de teatro ou mesmo enquanto processo social que envolve múltiplas determinações, não é necessária. O que importa é a sua utilidade, como instrumento de outras práticas educativas. O fim utilitário das artes se encontra no artesanato, no folclore, na encenação de peças para a higiene bucal. Quer dizer, não havia distinção entre cultura e arte. Enfim, a arte, como Weber6 assinala, é tida como salvação da cultura num mundo em decadência, não importa como isto possa ser interpretado. A ascenção da indústria cultural marca um processo de subordinação crescente da produção artística ao processo de produção capitalista.

Nossas licenciaturas em artes foram se adaptando ao tecnicismo com o tempo. No caso da Arte Dramática, até 2005 o curso era de Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas. Duas polivalências ao mesmo tempo. Da própria educação artística e também das artes cênicas, que reúne desde o circo até a dança, passando por shows e variedades. A confusão nesta área continua grande. Para se ter uma idéia, a Escola de Educação Física da UFRGS foi quem abriu recentemente o Curso de Licenciatura em Dança. Mas aí é outra discussão.

Com a decretação da Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (art. 26, segundo parágrafo), e, em seguida, a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1997/98, surge o ensino das artes em suas diversas modalidades. O que mudou este tempo todo? Quais os reflexos da Educação Artística na criação e na pedagogia das artes? Como o teatro repercute esta transformações no ensino e na pesquisa? (...)"

6“Proporciona uma salvação das rotinas da vida cotidiana e especialmente das crescentes pressões do racionalismo teórico e prático” (WEBER, 1971:391)

2 comentários:

Luciana Paz disse...

OI Priscila,
Penso que é bem recente o espaço que se abre para o teatro nas escolas regulares. Ainda encontramos muitos professores de outras áreas, diretores, administradores que não concebem o teatro como uma disciplina. Logo nosso trabalho como profissionais da pedagogia teatral ou teatro educação, é também de criar esse espaço.

Luciana disse...

E, a propósito, qual o papel do teatro no questionamento dos tempos e espaços escolares mais tradicionais na escola?