terça-feira, 1 de setembro de 2009

7 de julho de 1966

Contemplo a sós o mar
e penso...
Vejo as ondas em agitado movimento...
São montanhas de moléculas,
cada uma indiferente às outras...
triliões as separam
formam, porém, em uníssono a branca espuma.

Idades primevas sucessivas...
'inda as ondas não eram por humanos olhos visíveis
ano após ano, tão estrondosamente
como agora, batiam nas praias.
Para quem, para quê?...
num planeta ainda sem vida,
um espectáculo sem espectadores.

Jamais em repouso...
torturado era o mar pela energia
prodigiosa do Sol...
desperdiçada sem trégua, derramada no espaço.
Uma migalha apenas faz bramir o mar.

Na profundidade dos oceanos, as moléculas
repetiam-se em padrões codificados
e repetindo-se, repetindo-se sem fim,
moléculas mais complexas formaram.
Novas e outras iguais a si...
E uma dança original iniciaram.

Crescendo em tamanho, escolheram a via da
complexidade...
Eis, por fim, a vida, multidões de átomos,
ADN, proteínas...
Sempre, sempre embalando-se em estrutura complicada.

Saídos já do berço-mar, agora
terrestres...
átomos que ponderam,
matéria observadora.

À beira-mar...
um Eu...
Pergunta e pergunta-se:
um universo de átomos...
um átomo no universo.

Richard P. Feynman, Science and Ideas, A. B. Arons, ed., Prentice-Hall, 1964, p.5


>>> para pensar a Química no espaço tempo, ou a história/percurso/evolução(?) de um átomo...

Um comentário:

Luciana Paz disse...

Carol, esse poema me lembrou a matéria de jornal que teu grupo leu hoje na aula. Uma outra forma de se relacionar com uma disciplina que chega ao senso comum como algo frio, sem devaneios, sem relação com aquilo que nos faz pulsar, mas penso que e bem ao contrário.
Tu daria esse texto aos teus alunos?