terça-feira, 17 de março de 2009

Tempos e Espaços nas Artes Visuais

Os espaços de uma aula de artes podem e devem ser os mais variados possíveis. Para começar não sei nem se o termo “aula de artes” é viável, visto que, do meu ponto de vista, ninguém ensina arte, mas sim incentiva o gosto por ela, a sua interpretação e a sua produção. Levando em consideração esse conceito, é pertinente que a convivência com ela comece desde cedo e seja frequente e discutida, fazendo visita a exposições, conversando com artistas dentro ou fora da sala de aula. É importante também desenvolver o olhar do estudante com provocações, estimulando o olho e o pensamento com imagens diversas e evitando as paredes brancas e o quadro negro da sala de aula que só minimizam o pensamento de alguém que está em época de descobrimento e associação de informações.
Eu penso que se o ser humano é obrigado a seguir coisas que são impostas como o melhor e o mais eficaz (no caso a narrativa escolar atual, segundo o autor Fernando Hernàndez em Catadores da Cultura Visual), tende a ser uma pessoa que não questiona, não soluciona e sem (ou pouca) capacidade de organização de pensamento. Para mim é isso que as Artes desenvolvem: o senso crítico do indivíduo juntamente com sua expressão de ideias e opiniões que nunca estão erradas, pois uma obra de arte permite ser lida por diferentes ângulos, o que reflete em um posicionamento perante a sociedade em que ele vive.
Em novembro de 2008 tive a experiência de observar uma manhã do Centro de Desenvolvimento da Expressão, segue o relatório:

No dia 18 de novembro eu e Clarissa visitamos o Centro de Desenvolvimento de Expressão para observarmos o andamento de uma aula de artes de ensino infantil. Chegando lá, uma das alunas e a professora me receberam mostrando os trabalhos das crianças. Trabalham com argila, recortes, costura, teatro, música, dança, informática, fazem “livros”, pintam com aquarela, lápis de cor, tinta guache, lápis de cera, etc. Na quinta-feira, dia 20 de novembro, iniciará uma exposição com os seus trabalhos, o que é importante para o reconhecimento da sua arte no espaço e contato com a reação de diversos tipos de espectadores. À medida que foram chegando, as crianças sentavam-se onde queriam e criavam seus próprios roteiros de atividades, indo diretamente à produção. A educadora estimulou a criação e modos de solução o tempo inteiro e manteve a disciplina de todo grupo sem muito esforço. Era notável que todos estavam interessados e não se sentiam pressionados. A turma permaneceu em harmonia e num ritmo desde o início da aula, interagiam entre si permanecendo focados em sua produção individual. Enquanto criavam as crianças viajavam em uma linguagem que é específica de cada um, eles usavam gestos, cantavam, interpretavam e conversavam. Admiravam a produção dos colegas e davam opiniões pessoais. Ao deixar uma atividade eles organizavam, limpavam e deixavam como encontraram o local onde trabalharam. Algumas crianças compuseram músicas e peças de teatro. Descendo a escada vi a oficina de cerâmica. Na produção com argila eles usam estecos e, como as peças são queimadas no forno que está na oficina, a professora ensinou todas as técnicas de cerâmica para que as peças queimem com sucesso. Saindo da oficina de cerâmica vi um pátio, nele algumas crianças jogando bola. O pátio tinha o chão de terra e árvores espalhadas aleatoriamente, lembrando um pátio de casa. Subindo vi a turma dos menores (4 à 6 anos) nos computadores desenhando no Paint. Dominavam o programa. Uma das crianças desenhou dois ursinhos, os outros usavam imagens prontas por escolha própria e desenhavam a partir delas. Na hora de ir embora todos organizaram seus trabalhos com zelo, pois a exposição está próxima.
Concluo nesse relatório que infelizmente não pude observar mais calmamente as atividades das crianças, pois fizeram coisas diferentes aleatoriamente, o que é bom para eles, porém pelo que vi dos trabalhos expostos, a maioria está na fase do realismo intelectual e alguns (2 ou 3, os mais quietos) são um pouco desatentos e fazem desenhos mais gestuais, tentando imitar a figuração dos colegas, nomeando os elementos e fazendo detalhes reconhecíveis.

Relendo meu relatório, acho ele um bom exemplo te outros modos de explorar o tempo e espaço. No CDE o tema, a atividade, os materiais são livres, possibilitando que os próprios alunos construam o seu tempo e dominem seu espaço.

http://cdepoa.blogspot.com/


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