Oi pessoal, estava lendo um artigo chamado “Um Documentarista se dirige à Cientistas: Arte, ciência e desenvolvimento” de João Moreira Salles na Folha de São Paulo, e como falamos muito sobre o assunto da interdisciplinaridade, resolvi colocar um trecho deste artigo aqui, que tem muito a ver com o que falamos:
"(...)Em 1959, o físico e escritor inglês C.P. Snow deu uma famosa palestra na Universidade de Cambridge sobre a relação entre as ciências e as humanidades. Snow observou que a vida intelectual do Ocidente havia se partido ao meio.
De um lado, o mundo dos cientistas; do outro, a comunidade dos homens de letras, representada por indivíduos comumente chamados de intelectuais, termo que, segundo Snow, fora sequestrado pelas humanidades e pelas ciências sociais. As características de cada grupo seriam bem peculiares. Enquanto artistas tenderiam ao pessimismo, cientistas seriam otimistas.
Aos artistas, interessaria refletir sobre a precariedade da condição humana e sobre o drama do indivíduo no mundo. O interesse dos cientistas, por sua vez, seria decifrar os segredos do mundo natural e, se possível, fazer as coisas funcionarem. Como frequentemente obtinham sucesso, não viam nenhum despropósito na noção de progresso.
Estava estabelecida a ruptura: de um lado, o desconforto existencial, agravado pela perspectiva da aniquilação nuclear; do outro, a penicilina, o motor a combustão e o raio-X. Na qualidade de cientista e homem de letras, Snow se movia pelos dois mundos, cumprindo um trajeto que se tornava cada vez mais penoso e solitário.
"Eu sentia que transitava entre dois grupos que já não se comunicavam", escreveu. Certa vez, um amigo seu, cidadão emérito das humanidades, foi convidado para um daqueles jantares solenes que as universidades inglesas cultivam com tanto gosto. Sentando-se a uma mesa no Trinity College -onde Newton viveu e onde descobriu as leis da mecânica clássica- e feitas as apresentações formais, o amigo se virou para a direita e tentou entabular conversa com o senhor ao lado.
Recebeu um grunhido como resposta. Sem deixar a peteca cair, virou-se para o lado oposto e repetiu a tentativa com o professor à sua esquerda. Foi acolhido com novos e eloquentes grunhidos.
Acostumado ao breviário mínimo da cortesia -segundo o qual não se ignora solenemente um vizinho de mesa-, o amigo de Snow se desconcertou, sendo então socorrido pelo decano da faculdade, que esclareceu: "Ah, aqueles são os matemáticos.
Nós nunca conversamos com eles". Snow concluiu que a falta de diálogo fazia mais do que partir o mundo em dois. A especialização criava novos subgrupos, gerando células cada vez menores que preferiam conversar apenas entre si”.
O fato de as exatas e as humanas estarem tão distantes uma da outra não é de agora. Isso vem de muito tempo, e acho que ler esse artigo é muito importante para todas as áreas. Todo o artigo está aqui: http://docs.google.com/View?id=dgv27qmf_60ff7bshdb
3 comentários:
O texto postado é muito bom!! A verdade é que muitas vezes o tratamento dos professores de outras áreas do conhecimento para com o das áreas das artes, é este mesmo citado no texto: "grunhidos", em vez de respostas educadas àquilo que estamos perguntando!!? É um pena... Abraços, Mára Elisa
Ótimo texto, Natália! Vamos comntá-lo nessa semana em aula.
É, parece interessante...
Por mais que as pessoas, acadêmicos ou não, insistam em dizer que há essa separação toda entre "exatas" e "humanas", não consigo ver distinção clara entre estes termos.
Na verdade, pra mim, isso é tudo coisa de gente "birrenta" e preconceituosa que insiste em diferenciar coisas que não são diferenciáveis e estabelecer definições sobre objetos que não estão bem definidos.
Enfim... É coisa de gente que quer ver a vida apenas de um lado, aquele lado que lhe é mais aprazível e conveniente: o seu!
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