segunda-feira, 14 de junho de 2010

Da masturbação ao formalismo de mercado

Vito Acconci


Artista norte-americano, Vito Acconci nasceu em 1940 no Bronx, em Nova Iorque. Estudou literatura no Holy Cross College, em Nova Iorque, entre 1958 e 1962, frequentando posteriormente a Universidade de Iowa (1960-1964).
Iniciou a sua actividade artística no final dos anos sessenta, reagindo contra a rigidez matemática e a austeridade formal do movimento minimalista que se desenvolveu durante essa década. Procurou então exprimir-se artisticamente de forma intensa na tentativa de provocar reacções emotivas e apaixonadas no público.
Considerava esgotado o sistema mercantilista que dominava a produção artística nova-iorquina e que assentava na produção de objectos para vender em galerias. Assim, opondo-se ao carácter comercial da arte, desenvolveu manifestações com carácter efémero que se dirigiam directamente ao público. Desta forma, adoptou a performance como manifestação preferencial para concretizar as suas propostas estéticas e realiza em Nova Iorque, em 1969, a sua primeira exposição individual.
O uso do próprio corpo como tema e material de trabalho e veículo para a expressão liga-o ao movimento da Body Art. Nas acções que realizou, Acconci aborda normalmente temáticas ligadas à relação entre o homem, o sexo, o prazer e o desejo. Grande parte das performances foram documentadas em fotografias, como é o caso da acção "Seedbed", apresentada em 1972 em Nova Iorque.


Vito se masturba em baixo do chão por dias durante sua exposição.

Em 1970 realizou trabalhos em vídeo e em película, de que é exemplo o filme Body Art, concretizado entre 1970 e 1972. Produziu também desenhos e colagens como "L'Attico Roma" (1972), uma colagem de fotografias à qual associa textos escritos com giz sobre cartão. Realizou ainda um conjunto de esculturas e de instalações que colocou em espaços urbanos, explorando o potencial da grande escala para estabelecer relações estranhas com os lugares em que as peças se inserem, de que é exemplo a peça "Multi-bed 4", de 1991.
Foi professor de teoria de arte na School of Visual Arts de Nova Iorque entre 1968 e 1971.


instalação/objeto, Instant House #2, de 1980, feita com quatro chapas de madeira, estiradas ao chão, cortadas, cada uma pintada com a bandeira dos E.U.A. Um mecanismo do tipo balanço é ativado por cordas e roldanas presas às peças e quando o espectador senta ao balanço, as placas se fecham e formam um objeto tridimensional – uma caixa – em forma de casa. Do lado de fora, pintada, a bandeira da Rússia. Lembremos da Guerra Fria.
Mas o que estava em jogo tinha a ver com uma continuidade, descontinuidade de espaços. Um abrir-se e fechar. Juntar o dentro e o fora. Casar os inimigos. De tornar algo bi em tridimensional.
Remontava-se, com isso, toda a história da arte, depois do modernismo: colagem, cubismo, construtivismo, Jasper Johns, Pop, Minimal, Conceitual, etc. Em suma, uma peça síntese, cuja aparição, traz em si toda a história, cultura e arte que passou, apontando para uma cultura que devia se desdobrar, se abrir, se permear.


Por Valter: na pequena pesquisa que fiz a respeito de Vito Acconci, percebi que se trata de um artista ousado e criativo. Sua obra alcança um sentido completo por na sua estética e substância. Mostra um olhar provacado e provocativo, que chacoalha as formas viciadas de ver e se ver no mundo das coisas, creio que aí também está sua relação com a Boodyarte. Sua obra atende sim uma temática de tempo e espaço, desafiando diversidade de olhares e formas sobre os ambientes. Encontrei no site Canal Contemporâneo uma critica de Rubens Pileggi Sá sobre sua arte hoje, ele fala de uma palestra de Vito ha pouco menos de um ano no Rio de Janeiro e no texto relata e explica o histórico de Vito e expõe algumas obras. Mas faz uma crítica dura para os caminhos que Vito acabou tomando, tornando seu trabalho muito ligado ao mercado e não tendo mais, na opinião de Rubens, mais nada em seu conteúdo, sendo acrítico e descontextualizado. Achei o texto muito interessante, pois se trata de alguém que conhece bem o artista e se declara fã deste, mas expõe uma grande decepção com o artista atualmente: “E eu nem vou exigir que o cara, aos 69 anos, continue se masturbando debaixo do chão. Claro que não. Mas o que a gente não pode nem deve aceitar é a frouxidão. Arte tem de ter virilidade. Não é uma questão de gênero, continua sendo uma questão de tesão, de saber criar tensão, de colocar amor e generosidade naquilo que se faz. Ou, como diz Douglas Crimp, em “As ruínas do Museu”, no capítulo sobre a redefinição de espaços, onde fala da obra de Richard Serra, que o artista não pode se tornar um “operador técnico” terceirizado à serviço do mercado. (...)E embora tudo aquilo que ele foi e fez tenha sido altamente significativo, o fato é que o que ele realiza agora só é orgânico em relação à forma, sem nenhuma preocupação a mais comigo que queria tanto poder amá-lo, ainda.” (PILEGGI, 2009).

Peço que leiam este texto no site: http://www.canalcontemporaneo.art.br/arteemcirculacao/archives/002495.html

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