segunda-feira, 21 de junho de 2010

Allan Kaprow


Allan Kaprow (EUA, 1927- 2006)

É o criador do Happening e um dos pioneiros no estabelecimento dos conceitos de performance. Seus Happenings, quase 200, ocorreram durante anos; mas Kaprow alterou gradualmente estas práticas para o que ele denominou de Atividades, trechos de pequena escala para um ou mais performers e objetivando examinar comportamentos e hábitos do dia-a-dia, de uma forma quase indistinta da vida comum. Em Horizonte Expandido Allan Kaprow é lembrado por suas Atividades como uma possibilidade de arejar e recuperar o prazer da investigação lúdica e do empirismo das ações pedagógicas realizadas no campo da arte, convidando-nos a borrar os limites entre o que se pode considerar ação criadora, fruição, crítica e mediação.

Fonte: http://horizontexpandido.blogspot.com/p/artistas.html


Relembrando a oficina da Glenda e da Simone sobre o Pollock, achei interessante postar alguns trechos de um texto escrito por Kaprow:

“A notícia trágica da morte de Pollock, há dois verões, foi profundamente deprimente para muitos de nós. Sentimos não só uma tristeza pela morte de uma grande figura, mas também uma perda mais profunda, como se alguma coisa tivesse morrido junto com ele. Éramos parte dele: ele talvez fosse a encarnação de nossa ambição por uma libertação absoluta e um desejo secretamente compartilhado de virar as velhas mesas cobertas de quinquilharia e champanhe choco. Vimos em seu exemplo a possibilidade de um espantoso frescor, uma espécie de cegueira extática.

(...) Pollock, segundo o vejo, deixa-nos no momento em que temos de passar a nos preocupar com o espaço e os objetos da nossa visa cotidiana, e até mesmo a ficar fascinados por eles, sejam nossos corpos, roupas e quartos, ou se necessário, a vastidão da Rua 42. Não satisfeitos com a sugestão, por meio da pintura, de nossos outros sentidos, devemos utilizar a substância específica da visão, do som, dos movimentos, das pessoas, dos odores, do tato. Objetos de todos os tipos são materiais para a nova arte: tinta, cadeiras, comida, luzes elétricas e neon, fumaça, água, meias velhas, um cachorro, filmes, mil outras coisas que serão descobertas pela geração atual de artistas. Esses corajosos criadores não vão só nos mostrar, como que pela primeira vez, o mundo que sempre tivemos em torno de nós mas ignoramos, como também vão descortinar acontecimentos e eventos inteiramente inauditos, encontrados em latas de lixo, arquivos policiais e saguões de hotel; vistos em vitrines de lojas ou nas ruas; e percebidos em sonhos e acidentes horríveis. (...) – tudo vai se tornar material para essa nova arte concreta.

Jovens artistas de hoje não precisam mais dizer ‘Eu sou um pintor’ ou ‘um poeta’ ou ‘um dançarino’. Eles são simplesmente ‘artistas’. Tudo na vida estará aberto pra eles. Descobrirão a partir das coisas ordinárias, o sentido de ser ordinário. Não tentarão torná-las extraordinárias, mas vão somente exprimir o seu significado real. No entanto, a partir do nada, vão inventar o extraordinário e então talvez também inventem o nada. As pessoas ficarão deliciadas ou horrorizadas, os críticos ficarão confusos ou entretidos, mas esses serão, tenho certeza, os novos alquimistas dos anos 60.”

KAPROW, Allan. O legado de Jackson Pollock. In: FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília. Escritos de artistas: anos 60/70. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.


Nenhum comentário: