quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Tio Tungstênio - Memórias de uma infância química

Este livro de Oliver Sacks, trata de uma viagem às primeiras descobertas de um inquieto cientista nato. Contendo fotos e ilustrações ao início de cada um dos seus 12 capítulos, além de uma Tabela Periódica em página dupla e índice remissivo, o livro é uma autobiografia que descreve as experiências e observações do autor realizadas desde quando ainda muito jovem até a sua adolescência, durante o período da Segunda Grande Guerra.
Filho de família numerosa e tendo como pais um casal de médicos, Sacks teve a liberdade e até mesmo foi estimulado a montar, ele mesmo, um laboratório em casa. Morador de Londres, teve acesso a diversos materiais disponibilizados por seus tios, que eram industriais, e pelas lojas de produtos químicos a varejo. Desta forma, Sacks realizou experiências que poucos dos profissionais da química de hoje em dia tiveram a oportunidade de realizar e outras que são comuns nos laboratórios de ensino, de hoje em dia. Mais do que isto, arguto ao extremo, sua mente inquisidora fazia-o perseguir, com fervor, muitas das questões mais fundamentais da química, deslumbrando-se o tempo todo ao perceber os grandes feitos de cientistas tais como Davy, Boyle, Bohr, Mendeleiev, Rutherford, o casal Curie, Moseley, Cannizzaro, Faraday, Dalton, Priestley, Bunsen, Kirchhoff, Kelvin e outros.
Sua forma leve de escrever faz do livro uma leitura fácil e agradável, embora repleta de conceitos fundamentais para o entendimento do mundo que nos cerca, em especial o da química. Seus capítulos sobre tabela periódica e radioatividade são absolutamente magistrais e dignos de figurar em qualquer livro de química de nível secundário ou universitário e o desenrolar histórico de muitos dos grandes acontecimentos científicos é enriquecedor, mesmo para aqueles com ampla cultura química.
"Tio Tungstênio" traz de volta o romantismo da química e das grandes descobertas. Romantismo que foi definitivamente perdido quando da explosão da primeira bomba atômica sobre o Japão e que levou o autor a concluir: "A física atômica ou nuclear (...) nunca mais poderia avançar com a mesma inocência e despreocupação da época de Rutherford e dos Curie". A partir de então, e cada vez mais, sempre que ocorre um acidente ecológico, muito se tem falado contra a Química e pouco se tem conseguido fazer para reduzir este estigma pejorativo já bastante arraigado na população. "Tio Tungstênio" vem preencher, de forma significativa, esta lacuna através de um relato absolutamente impressionante de uma infância química prazerosa em meio aos gases, metais, compostos fedorentos e explosões. Desta forma, não é difícil prever que esta obra venha a ser utilizada como texto suplementar no ensino de química, em todos os níveis, formando cidadãos mais conscientes da importância das ciências para o desenvolvimento social e econômico.

Nenhum comentário: