sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Sua vida trouxe você até aqui

Um texto preparando a discussão da próxima aula: quais são as nossas memórias?


Zero Hora – 24/10/2006- DlANA CORSO - E-mail:dianacorso@portoweb.com.br

"Sua vida trouxe você até aqui"


Essa frase é o texto de um comercial Na imagem que acompanha, um rapazote cabeludo, em idade de andar de ônibus, observa o que a propaganda anuncia como "Novo Prisma. Seu primeiro grande carro". Atrás dele a vida é simbolizada por um bizarro e interessante grupo amontoado: familia, amigos, amores, colegas de di­versas fases da vida, médicos, reli­giosos, professores, mas também há personagens ficcionais, representan­tes da cultura pop e de comerciais.

Cada um tem sua própria seleta de elementos que integram o acervo da memória, dela é composta a vi­da que nos leva a algum lugar. São histórias, frases, nomes, músicas e imagens que constituem uma baga­gem afetíva e intelectual Na memó­ria os fatos e a ficção se confundem. O mesmo ocorre quanto a eventos marcantes que disputam espaço com outros de aparente banalidade. Por isso imagens ou palavras prove­nientes de um gibi ou de uma em­balagem de cereais podem rivalizar em importância no acervo da me­mória com a última frase da nossa avó em seu leito de morte.

Examinando o conteúdo de nosso acervo pessoal veremos que a me­mória não prega prego sem estopa e tudo está ali por alguma razão. Nas minhas catacumbas, por exemplo, mora a imagem da Ipirela, uma loi­ra escultural pintada na parede do posto da esquina, garota propagan­da do local Contemporânea dessa lembrança, da época em que come­çava a ir à escola sozinha, é a ima­gem de um gato eviscerado, caído do alto de um prédio. A mulher irre­sistível que eu esperava ser no futuro e a morte colhendo aquele que era para ter sete vidas aparecem através de eventos ou imagens aparente­mente banais. Porém, não é irrele­vante o início da independência, os primeiros passos a sós no mundo sem uma mão para nos guiar. Cer­tamente é também o momento de encarar o crescimento, a sexualidade e a morte.

O Dr. Ivan Izquierdo e sua equipe na PUCRS avançaram mais um passo na pesquisa sobre a memória, eles investigam a formação e a con­solidação de memórias e lembran­ças. Desvendaram "como ocorre a síntese de proteínas que possibilitam à mente registrar os eventos para sempre" (em ZH do último dia 19). Eles também investigam o que acontece com as memórias quando evocadas, pois a mente é como um armário remexido, nunca mais fica do mesmo jeito, mesmo que depois se arrume. Como se vê o significado e a importância do que se guarda depende do contexto e o que se evo­ca acaba sendo reeditado, lembrar é algo que se altera e nos altera.

Independente do rumo que nossa vida tenha tomado, o que não mu­da é o fato de o destino alimentar-se das memórias, boa a sacada do co­mercial Ainda bem que há cientis­tas trabalhando para nos ajudar a preservá-las quando a idade ou al­guma doença nos privam delas. O mesmo fazem os psicanalistas, pro­curando lembranças nos porões pes­soais e alheios. Outra coisa são os pontos de chegada, espero que sejam tão particulares e variados como as memórias. Para mim um carro não é uma perspectiva atraente. Queria era ter ficado parecida com a Ipirela. Não deu!

A psicanalista Diana Corso escreve quinzenalmente no Segundo Caderno

2 comentários:

Dani Dutra disse...

"[...]lembrar é algo que se altera e nos altera."
É preciso um tempo de silêncio para que tenhamos acesso à nossa memória, um silêncio para aquietar essa pressa que nos afeta e nos leva a ter cada vez menos tempo para tomarmos consciência do que nos acontece, das nossas experiências. E esse tempo é raro, mas em espaços como o que dividimos todas as semanas podemos nos aproveitar desse tempo!
A memória, quando resgatada a partir de boas bases teóricas, se torna uma aliada para nosso crescimento profissional.
Citando Freire: “[...] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me, no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. Não é possível a assunção que o sujeito faz de si numa certa forma de estar sendo sem a disponibilidade para mudar”.(1996, p.44).

Anônimo disse...

Em momento algum durante a proposta das meninas imaginei ter visto o comercial do novo Prisma, me parecia uma propaganda cheia de conteúdo...e eu realmente não me lembrava de ter visto nada nem parecido na tv ultimamente.
Para minha surpresa..muitas vezes eu o assisti, mas jamais parei para prestar a atenção.
Assim que asssiti em sala de aula junto com os colegas comecei a pensar (devido a proposta das meninas)nas pessoas, momentos, pesonagens que marcaram a minha vida.
Centenas de lembranças vieram a minha cabeça...algumas compartilhei, outras guardei em segredo.
Sai da sala assim que terminou a aula, mas segui pensando nas "coisas" que marcaram a minha vida..
Quando cheguei em casa, não pude me conter...
abri uma caixa velha de papelão empoeirada, nela muitas lembranças, maravilhosas recordações, outras nem tanto...
Foi bom relembrar alguns momentos, rever fotos, momentos, tocar objetos que um dia já foram um tesouro para mim.
Lembrar de dias ruins e coisas que com muita força de vontade consegui superar.
Passei muito tempo pensando no que me trouxe até aqui, mas não consegui definir em apenas uma coisa (como o novo Prisma), mas mais importante que isso é para onde eu vou ir daqui para frente, quais serão as minhas perspectivas... até onde minhas lembranças, meu passdo e meu presente vão me levar??