Mais um semestre chega ao fim e nós sempre paramos para refletir sobre o que ficou de significativo.
E, com certeza, esta disciplina foi para a pasta do memorial. Pois, em todas as aulas foi possível levar algo que refletirá em nosso caminho como professor.
Para terminar, deixo este texto como mensagem de encerramento...
Beijos e até!
O giz e o bisturi
(Celso Antunes)
(Celso Antunes)
Giz e bisturi são instrumentos que diferem muito.
Um é metálico, outro não. O giz tem duração limitada, enquanto um bom bisturi pode durar bastante. O giz custa quase nada e por isso quando utilizado, restos não aproveitados são jogados fora ou se transformam em artefatos de guerras na brincadeira entre alunos, o bisturi é caro e seu uso implica em assepsia e cuidado. Não se pode conceber professor sem giz, mesmo em espaços onde se anuncia lousa eletrônica, não se pode pensar cirurgião sem bisturi, apesar de toda tecnologia e avanço que caracteriza um moderno centro cirúrgico.
Mas, giz e bisturi possuem também alguma analogia.
São apenas instrumentos e nada podem sem ação e intenção de quem os usa. Um giz largado e esquecido na margem da lousa não serve para quase nada, não ensina ninguém; um bisturi guardado em seu belo estojo ou esquecido em mesa cirúrgica não salva paciente, não ajuda a preservar vida de quem quer que seja. O giz sem o professor é quase nada, o bisturi distante do cirurgião possui discutível utilidade. O que torna o giz capaz de pensamentos e a ousadia da compreensão e da significação é seu uso pelo professor, o que torna o bisturi recurso essencial de salvação e, muitas vezes, esperança de preservação de vida é o cirurgião.
É por essa razão que o bisturi reúne em sua insensibilidade material o tudo ou o nada, o poder ou a ausência. Por igual motivo, também o giz é recurso mineral que sem o manejo do mestre é peça inútil ou faz milagres ao sensibilizar razões, determinar esperanças. Um bisturi mal usado é um perigo e se transforma em arma, mas não será por acaso uma arma também o giz mal utilizado?
Médicos admiráveis são verdadeiros santos em sala cirúrgica com bisturi na mão; mestres essenciais são mágicos autênticos em sala de aula, segurando o giz. Impossível saber qual recurso é mais importante; mas facilmente comparável sua grandeza quando envolvem intenções sinceras, propósitos essenciais.
Um grande professor em sala de aula e manejando seu giz é como um médico essencial, em centro cirúrgico, com bisturi na mão.
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