domingo, 24 de agosto de 2008
Tempos e espaços escolares
Os tempos mudaram. O ambiente familiar está mais flexível. Crianças e adolescentes conversam com seus pais sobre diversos assuntos. Mudou também a dinâmica de trabalho nas grandes empresas, que passam a esperar dos trabalhadores muito mais do que a simples repetição mecânica e individualizada de um gestual memorizado. A interatividade, a intercomunicação, o trabalho em equipe, a gestão em rede, a flexibilidade, a inventividade são conceitos incorporados à moderna gestão empresarial.
Claro que tanto alunos, quanto professores, não são mais os mesmos. Os jovens que hoje se dirigem às escolas de Ensino Médio não deixam na porta de casa as novas experiências de vida e os novos padrões de comportamento – ou a ausência de padrões. Muitos professores também não se conformam com um modelo pedagógico que exige passividade aos alunos e a fragmentação do currículo escolar e esforçam-se por romper as amarras às quais estão atados. E no entanto, o padrão de gestão do espaço e do tempo escolares segue sendo o mesmo.
A interdisciplinaridade como princípio pode estar presente mesmo na organização corriqueira de ritmo entrecortado – as incríveis horas de quarenta minutos que desafiam qualquer lógica natural. Para isso, o que importa é que os professores estejam conscientes do que fazem e de que participam de um mesmo projeto pedagógico. Para isso, é claro, é necessário que a escola tenha um projeto pedagógico explícito e consciente e não a mera repetição mecânica de velhas práticas.
Embora se possa fazer muita coisa nova e boa mesmo dentro das velhas estruturas, a adoção do princípio da flexibilidade na organização curricular pede um pouco mais de ambição, criatividade e ousadia no uso do tempo. E isso por diversas razões. Primeiro, porque nada assegura que sejam necessárias unidades de quarenta ou cinqüenta minutos para que a aprendizagem se dê. Ainda esta vez, é preciso superar a repetição. Dependendo do que esteja ocorrendo no processo de aprendizagem, cinquenta minutos podem significar muito, mas também podem significar pouco. Isto porque a concepção de aprendizagem com que estamos lidando não é mais aquela da simples transmissão e reprodução de informações. O que importava era a quantidade de informação, não a qualidade da formação. Se o que queremos é que o educando construa competências e conhecimentos significativos para sua vida social e se reconhecemos que a complexidade da vida social exige, por coerência, uma aprendizagem também complexa, não podemos abandonar a perspectiva de adotar novas práticas pedagógicas, como, por exemplo, o trabalho por projetos, que exige um planejamento flexível e não linear.
Claro que ninguém está pedindo para transformar o cotidiano da escola num verdadeiro caos que não se possa administrar. A mudança requer um planejamento e que este seja flexível para prever a possibilidade de se romper com a prática rotineira quando isto se fizer necessário, para o bem da aprendizagem dos alunos. Mas, para que isto ocorra, será preciso reinventar o ambiente e o trabalho escolar, deixando de lado para sempre a estagnação e o conservadorismo.
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