terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Tempo e o Espaço que não Passam

Sem outras referências reporto-me à minha vivência de aluno para falar um pouco do que penso sobre tempo e espaço na escola. Lembro bem do ambiente escolar, sobretudo dos detalhes do pátio, escadarias, bebedouros, quadra de esportes, etc. Sou capaz de lembrar das árvores, amoreiras que subi, bananeiras que destruí e plátanos onde eram dependurados os balanços. Sei da dimensão da quadra de “areião” e de seus estreitamentos. Lembro também das grades que pulei, da aventura em subir pelo mastro da bandeira, de mergulhar a cabeça na água dos bebedouros de torneiras de metal – para refrescar o calor, e de tantas outras estripulias.
Sobre o local onde acontecia a aula, formal, me falha a memória. Era um lugar que a criança achava enfadonho, sem graça alguma. Realmente não lembro de muitos momentos de dentro da sala de aula. As lições se perdem, os semblantes vão sendo apagados no vazio da memória e as tantas salas de aula com suas carteiras e cadeiras vão se confundindo em um só espaço onde nada mais acontecia.

http://www.youtube.com/watch?v=WC6GdmPybbM

Pensando em Piaget, nas áreas de conhecimento, sobretudo a motora, fica evidente o porquê dessa ausência de lembranças das salas de aula. É preciso observar que sou aluno do curso de teatro, e o que é mais instigante: sou bailarino por profissão. É evidente, então, que a sala de aula com todo o seu comodismo e formalismo não me interessava tanto. A mente fez questão de apagar a lembrança de chateação. Por outro lado, lembro de uma porção de momentos em que o desenvolvimento motor ou corporal ganhava campo. Era no pátio, nas árvores, na quadra de esportes, nas escadarias, enfim, lugares que ficaram marcados na memória pela vivência que proporcionaram.
Ao me perguntar sobre o espaço ideal para meu próprio desenvolvimento na escola não poderei ignorar a tradicional sala de aula, mas, em verdade, tenha a dizer que o espaço externo teve uma relevância maior para o que sou e o que eu faço hoje na idade adulta.

Por experiência própria, posso dizer, então, que o espaço escolar de aprendizado começa logo na entrada da escola e se espalha por toda a sua dimensão territorial.
Isso me faz pensar na necessidade que terão meus futuros alunos. Observando que eles não são iguais e trazem suas próprias especificidades é preciso imaginar um espaço ideal que atenda a demanda. É utopia. Não há condições de contemplar a todos, com uma mega-estrutura inviável economicamente.
Soma-se a essa dificuldade o tempo que é diferente para cada um. Alunos em fases diferentes com idades iguais, portanto com necessidades espaciais diferentes. Outro agravante seria uma estrutura que serviu bem na década passada, mas que no momento já não é mais ideal, porque não conta com instalações que permitam a inclusão de um laboratório de informática, por exemplo.

O tempo e o espaço parecem estar associados nessa mesma problemática de atender às necessidades dos aprendizes, e isso pode ser observado quando eu lembro da criança agitada que fui, e que não precisava tanto dos silêncios das salas de aula, e sim da amplitude de espaço a ser ocupado no recreio, ao passo que o adulto universitário de hoje necessita da sala de aula silenciosa e dispensa o pátio de recreio.

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