Caro colega!
Ingressei no curso de Química Industrial na UFRGS em 1999, mas pelo fato de trabalhar em uma indústria, acabei atrasando muito a minha formação e tive um grande fator de desperdício. Como as aulas eram diurnas, acabei acreditando que nunca conseguiria me formar. Em 2004, tive a intenção de passar para o curso de Licenciatura em Química, mas não tinha média suficiente para fazer a troca direta de curso. Comecei então a pedir, em curso 2, algumas cadeiras de Licenciatura. Em 2006, fiz o concurso extra-vestibular para entrar definitivamente para o curso de Licenciatura em Química - Noturno, e me formo no fim de 2009. No decorrer das disciplinas da educação, principalmente com relação ao Ensino de Química, fui me sentindo cada vez mais uma educadora, e me apaixonei pela idéia do trabalho docente, que na minha concepção, não se refere apenas ao trabalho de dar aulas e cumprir horário, mas sim, assumir um compromisso perante a sociedade: o da Educação através da Química. Isso, na minha opinião, é muito mais do que passar conteúdo aos alunos, pois envolve a educação como um todo, no sentido de formar pessoas capazes de compreender o mundo a sua volta com uma visão química, estimulando a interdisciplinaridade, a alfabetização e o Letramento em Química, enfim, pessoas conectadas com as coisas que as circundam e capazes de compreender a Química como uma ciência que faz parte do seu dia-a-dia.
O curso de Licenciatura em Química da UFRGS vem melhorando ao longo do tempo. Devo dizer que, ao ingressar na Universidade, o curso não era dos melhores com relação à formação de educadores. O que se tinha era um amontoado de cadeiras de Química e poucas cadeiras de Educação. Com a reforma do currículo, há pouco tempo, se pensou bem mais na questão da formação de professores capazes de ensinar. Ser professor, no meu entendimento, não é passar aos alunos uma relação de conteúdos listados em currículos de escolas, e sim, ter condições de buscar novas formas de integrar o aluno com a Química, usando espaços educativos que vão além da sala de aula, instigando a busca pelo conhecimento e o interesse pela ciência. Durante o estudo de algumas disciplinas, pude entender que um professor não deve usar um livro e repassar o que nele estiver escrito, pois o material didático deve ser construído de uma forma bem mais profunda, fazendo-se uma análise crítica dos livros disponíveis e construindo uma maneira de ensinar própria, com base nos conhecimentos adquiridos durante a sua formação acadêmica.
A metodologia a ser usada depende muito do ambiente em que se está trabalhando, pois em escolas públicas de periferia o trabalho deve ser diferenciado de uma classe situada num bairro de situação econômica privilegiada. Isso de forma alguma é uma espécie de discriminação, mas é fato que alunos de menor poder aquisitivo vivem numa realidade diferente, muitas vezes enfrentando problemas em casa que não são comuns a famílias em melhor situação financeira.
Olhando por esta ótica que descrevi nesta carta, acho que o bom profissional é uma característica própria de cada indivíduo, mas acredito que durante a sua formação, poderá tirar suas conclusões. A minha é de que a profissão docente é uma vocação, e que é preciso gostar muito do que se faz para se tornar um bom profissional, e isso é válido para qualquer área de atuação.
Por fim, colega, quero dizer a você que a profissão de educador é apaixonante e que, apesar dos percalços que com certeza encontrará pelo caminho, não há nada mais gratificante do que saber que se fez a diferença na vida de alguém. Pense bem na forma como fará a avaliação com os seus alunos, pois tenho a convicção de que a Aprendizagem Química vai muito além do que se pode constatar com perguntas e respostas ordenadas numa folha de papel.
De uma colega, quase uma educadora
Fabiana Santos Silveira