Durante a ida ao museu, percebi um ponto , que creio ser um armadilha à que todos estamos sujeitos (em especial nos cursos que se dizem mais cientificos). Falamos e cremos muito no que é “cientificamente comprovado”, mas muitas vezes acabamos nos fechando para tudo que é diferente daquilo em que acreditamos.
No terceiro semestre de formação em biologia ouvi duas perguntas muito bem colocadas feitas para uma turma de 50 alunos, a primeira foi : “Quem de vocês acredita na evolução?” (50 braços se ergueram imediatamente), a segunda foi: “quantos de vocês já leram a Origem das Espécies?” (nenhum braço se ergueu). Me pergunto no que realmente se baseiam as nossas convicções. A bagagem teórica que precisamos ter para ir a favor de algo é (ou ao menos deveria ser) tão grande quando a que deveríamos ter para ir contra esse mesmo algo.
Foi feita uma pergunta durante a exposição que me fez pensar: “Alguém sabe o que é o criacionismo?”. Será que algum de nós está mesmo apto a responder a esta pergunta? Creio que a maioria de nós e da comunidade cientifica cairíamos na mesma armadilha, responderia convictos e tão cheios de si, como portadores de verdade quanto uma criança ao ser perguntada sobre quem são Michelangelo, Donatelo, Leonardo e Rafael.
Enquanto não abrirmos nossas mentes e nos dispormos a aprender uns com os outros ao invés de nos exaltarmos como donos da verdade, continuaremos aprendendo sobre a vida das Tartarugas Ninjas, sem nunca aprender nada com o renascentismo.
Em 1912 Alfred Weneger descobriu que os continentes migram, fantástico não é? Se pararmos para ler mitologia grega ou algum livro religioso (não me detendo a bíblia), ouviremos idéias semelhantes serem propostas a milênios antes (se não me engano a regra é que a publicação mais antiga que conta não é???). Não quero de forma alguma tirar o crédito de Weneger, o que quero é deixar claro que orgulho só atrapalha o aprendizado. O que eu quero expor é que se não pararmos para ouvir e aprender até com um criacionista, nunca conseguiremos aprender com um aluno, nunca reconheceremos que muitas vezes estamos sim errados, e os alunos estão certos sim. Apoiar ou criticar sem conhecer o objeto de estudo é uma grande armadilha.
Precisamos entender que qualquer um que busque conhecimento vai alcança-lo, negar isso é o cumulo da ignorância, e nos condenará inevitavelmente a sermos os primeiros a acender as tochas para queimar o próximo Galileu.
5 comentários:
Guilherme, excelentes reflexões! É isso aí, precisamos ficar atentos para as armadilhas que nós mesmos criamos. O conhecimento é bem mais complexo do que imaginamos, é importante levarmos em conta várias perspectivas sobre os temas que tratamos, desconfiando da verdade que acreditamos.
Pois é , eu saí da exposição pensando sobre o caso da menina adventista e de sua professora. Agora li o que tu escreveu e só complementou o que eu estava pensando,. O conhecimento é muito mais que um determinado conteúdo e nós ( das exatas) ficamos presos em único foco, mas o conhecimento é mais que uma matéria , é um conjunto de máterias , vida , é a ligação de todos outros conteúdos a nossa própria disciplina , é trazer para o aluno o para que serve isso e não ficar só falando como se tudo fosse só uma decoreba, eu diria até que o professor tem que ter um " jogo" de cintura , pois tem que trabalhar as questões afetivas e religiosas e tudo mais , ser professor é um pacote na realidade.
show de bola Guilherme, uma bela provocação, e exatamente, no momento em que o mediador fez o comentário, me venho logo o pensamento de que assim como o criacionismo é uma crença o big bang é uma teoria. Eu sou Ateu, mas entendo esta opção como uma escolha não absoluta e imóvel, como um fator que organiza a construção do meu conhecimento, conveniente para mim no momento, mas nunca desqualificador de qualquer outra escolha de qualquer outra pessoa. tenho um tio Teológo, Pastor que é uma das pessoas com as quais eu mais gosto de conversar e tenho certeza que aprendemos muito um com o outro, não só no respeito destas diferenças, mas principalmente no convívio com elas.
Será que não podemos pensar o conhecimento da mesma forma que Nietszche percebe a consciência? Como sendo de origem coletiva e comunicacional?
citando:
"parece-me que a sutileza e a força da consciência estejam sempre em relação com a capacidade de comunicação... e que a capacidade de comunicação esteja, por outro lado, em relação com a necessidade de comunicação... é lícito supor que a consciência em geral se desenvolve somente a pressão da necessidade de comunicação... Consciência é tão somente uma rede de coligação entre homem e homem... eu penso que a consciência não pertence propriamente a existência individual do homem, mas sobretudo àquilo que ela (existência individual) tem de natureza comunitária..."(F.Nietzsche. Gaia Ciência. Milão: Mondadori, 1971, p. 209-210.)
Guilherme, quando você se pergunta "no que realmente se baseiam as nossas convicções" e escreve sobre a necessidade da bagagem teórica que precisamos ser tão grande, está implícito a necessidade de possuir todo o conhecimento.
Não poderíamos pensar num conhecimento construido em conjunto? Fruto da coletividade e da necessidade de comunicação? Conhecimento não só como produto desta coletividade e da comunicação, mas que também exista nesta coletividade e na comunicação?
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