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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

As pessoas tem medo de mais liberdade e fluidez?

    Descobri segunda-feira que deveríamos postar no blog algo relativo ao nosso artigo final. Enrolei um pouco, não sabia o que/como escrever. Agora, com o retorno dos comentários¹, inicio o tal post com uma citação bem deslocada de seu contexto.

    Assim, talvez seja mais fácil romper as amarras em disciplinas como português ou matemática, disciplinas importantes na vida das pessoas, onde NAS QUAIS limites e limitadores são facilmente percebidos e todos assumem a existência destes. Ao contrário das Artes, onde NA QUAL se acredita não existir limites ou vícios de ensino, além de ser o momento “recreio” em sala de aula e não acrescentar nada de útil para a vida das pessoas (a não ser que ensine uma técnica de artesanato que dê para vender e ganhar dinheiro).

    Os tachados e ITÁLICOS são correções feitas no meu texto. Sei que gramaticalmente onde não é uma boa palavra - devo admitir que ficou um pouco repetitivo (dois ondes em três linhas, ui!). Mas, coloco "onde" mesmo, de propósito, o advérbio relativo de lugar², pois sempre falamos de tempos e espaços, principalmente ESPAÇOS. Quando falo em romper limites e atravessar fronteiras, me refiro a conceitos que remetem a uma espacialização das áreas de conhecimento (área, mais um conceito espacial...). E sim, é ONDE mesmo que quero usar, o texto é meu e ninguém muda isso! tenho esta liberdade e faço uso dela, assim como coloco o ponto de exclamação e continuo com letra minúscula depois. (Mesmo o Word teimando em sublinhar de verde).

    Alguém pode dizer "louca essa guria, fica corrigindo as (correções das) professoras...". Considero que tenho essa liberdade, afinal, não foi disso que falamos durante três meses? Não falamos dos espaços que os grupos e os conhecimentos ocupam na educação e, (in)diretamente dos espaços que cada um ocupa neste processo? De quem tem o conhecimento e quem tem a razão? De que a "bola" deve rolar entre todos os jogadores, e que todos podem fazer o bendito gol (por incrível que pareça, o 'professor' da seleção é o único que não pode).

    A pergunta título deste post As pessoas tem medo de mais liberdade e fluidez? foi um comentário escrito por uma das Lucianas ao lado do trecho do texto(transcrito abaixo) onde exemplifico uma ideia que apareceu antes: as Artes possuem uma enorme desvantagem em relação às outras matérias – numa visão tradicional da educação, este já é um espaço/momento onde se transgridem certas normas.

    Esta normalização da transgressão da norma cria uma falsa impressão de inexistência de objetivos em arte, sendo bem percebida nas constantes solicitações pelos alunos da realização de “desenho livre”, um mau hábito criado* e mantido por maus professores.
*Coloco como mau hábito a realização de desenho livre, pois, se é livre, enfatiza a inexistência de objetivos. Se tivesse um objetivo não seria mais desenho livre (mesmo os estudantes não percebendo este objetivo).

    A Arte possui uma aparente liberdade de ação e ensino. Só aparente mesmo, pois esta dita liberdade limita mais a ação do que amarras reais e visíveis.
Eu peço, sussurro, berro: AMARRAS, POR FAVOR, SAIAM DO ARMÁRIO PARA PODERMOS VÊ-LAS E DESATÁ-LAS.
    Como combater algo que poucos sabem e assumem que existe?

    E quanto a pergunta do título: eu realmente acho que as pessoas tem medo de uma liberdade real e de mais fluidez em suas vidas. Regras, normas, limites e fronteiras trazem uma sensação de conforto, uma ilusão de segurança: um SONHO. É claro que estas normas e limites não trazem (r)EVOLUÇÃO, mas são confortáveis e, para grande maioria das pessoas, satisfatórias.

    Agora, por outro lado, essas fronteiras e regras precisam estar lá. Se não para outra coisa, para serem quebradas, burladas, saltadas, ATRAVESSADAS.

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    Como este é (provavelmente) meu último post no blog, coloco outro trecho de música: a saideira!

"Es la respuesta, tal vez es erronea,
Tal vez es correcta, sueña a la par del presente y no del futuro,
Porque de esto nunca estas tan seguro,”

musica: Dormir Soñando
grupo: El Gran Silencio
álbum: Libres y Locos



letra completa aqui:
http://letras.terra.com.br/el-gran-silencio/12346/
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¹ Sei que é complicado comentar trabalhos de 100 alunos, mas a maioria lê o retorno e alguns até ficam gratos pelos comentários... realmente vale o esforço.
² É esse mesmo o nome? povo das letras se manifeste se estiver trocado, pois sempre tive problemas em saber estas nomenclaturas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Literatura, Filosofia e a noção de ação voluntária

Repetir aqui o roteiro da oficina que realizamos semana passada seria por certo desnecessário; complementá-lo, porém, parece oportuno. Assim, usarei este espaço para, entre outras coisas, oferecer informações de caráter bibliográfico para aqueles que se interessarem pelo tema teoria da responsabilidade moral, entendendo-se por isso não um conjunto de regras que prescrevem a conduta humana, mas uma tese acerca das condições sob as quais é legítimo considerar um agente responsável, como sujeito a elogios e censuras; enfim, como merecedor de recompensas ou punições. Antes disso, gostaria de situar essa discussão.
Admite-se geralmente que um indivíduo é reponsável por suas ações se, e somente se, ele agiu livremente. Já nos textos clássicos esse é um conceito bastante presente quando se trata de filosofia prática. Liberdade, portanto, é algo requerido pela moralidade. Na modernidade, houve uma importante discussão a respeito do que queremos dizer quando dizemos que o indivíduo goza de liberdade, debate que esteve diretamente associado ao processo de secularização da moral. Alguns filósofos - na maioria religiosos - defendiam que o agente ser livre significa que não há qualquer determinação de sua ação ou vontade, ou seja, que suas ações não são causadas por nada. Filósofos como Hobbes, Collins, e Hume, por sua vez, exigiam menos que isso: não é preciso uma indeterminação total da ação do indivíduo para que ele possa ser legitimamente responsabilizado; o importante é que essa ação seja determinada ou causada a partir da vontade do agente, a partir de seus desejos. Agir desse modo é agir espontaneamente. A ausência dessa liberdade significa que o agente foi coagido, que ele não desejava fazer o que fez. Quando esse é o caso, diz Hobbes, não podemos responsabilizá-lo.
Em filosofia, mais importante do que saber o que cada autor pensa a respeito de um tema é investigar que razões são por ele oferecidas para sustentar sua posição. Assim, quando indagados sobre a necessidade de o agente ser absolutamente livre, os filósofos do primeiro grupo respondiam, o mais das vezes, que sem esse tipo de liberdade a religião e a moral estariam ameaçadas, i.e., elas seriam suprimidas. A bem da verdade, para eles a moral estaria ameaçada na medida em que a religião também estaria (tais filósofos acreditavam que a moral dependia de coisas como a existência de Deus, a imortalidade da alma, bem como a existência de um estado futuro de punições e recompensas, as quais seriam impostas por aquele Magistrado superior). O outro grupo de pensadores, os compatibilistas, porque não tinha interesse em apresentar teses consistentes com as religiões cristãs, exigiam, como se o disse, algo menos: para que o agente seja devidamente responsabilizado, basta que ele tenha agido de acordo com sua vontade. O que não será explicado aqui é por que que a ausência de uma liberdade absoluta (tecnicamente, liberdade de indiferença) implicaria a supressão da moralidade e da religião; basta dizer apenas que isso tem a ver com o chamado problema do mal, um dilema que deve ser superado pelas religiões sob pena de elas não serem consistentes em suas teorias a respeito da moral e da bondade de Deus. A essa altura talvez seja oportuno perguntar: o que a noção de ação voluntária, objeto da atividade proposta na oficina, tem a ver com essa discussão toda? Respondendo brevemente: que a ação passível de responsabilização moral seja voluntária (i.e., tenha sido fruto de um desejo ou vontade do agente) é algo que tanto libertarianos (os do primeiro grupo) quanto compatibilistas (os do segundo grupo) reconhecem como condição da moralidade. Obviamente, as coisas não param por aí; uns exigem algo mais, outros não. O fato é que existem muitas outras coisas a serem ditas sobre esse tema. Espero, contudo, que esse pequeno esboço tenha contribuído para situar minimamente a questão objeto de nossa oficina.
Mudando de assunto
Não sei o que vocês, caros colegas, acharam da oficina. Em geral, pareceu-me que gostaram. É provável que a atividade tenha parecido muito distante do objetivo teórico planejado (a noção de ação voluntária). Eis uma consequência do pouco tempo que temos para nossas apresentações, o que decorre do fato de termos apenas um encontro (com apenas dois períodos) por semana nesta disciplina. De qualquer modo, se aquela foi uma atividade ao menos agradável, se os fez refletir sobre coisas importantes (como pensar sobre a própria vida), se promoveu aproximações na turma, então não há mais o que desejar; se, porém, os juízos forem contrários, isso servirá como experiência e motivação para uma próxima ocasião.
Mudando de assunto novamente
Eis a bibliografia recomendada:
NAGEL, Thomas. Uma breve Introdução à Filosofia (São Paulo: Martins Fontes, 2007). Capítulo 6: "Livre-arbítrio".
STRAWSON, P. F. Análise e Metafísica: uma Introdução à Filosofia (São Paulo: Discurso Editorial, 2002). Capítulo 10: "Liberdade e Necessidade".
HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral (São Paulo: Editora UNESP, 2004). Seção 8: "Da Liberdade e Necessidade".
STRAWSON, P. F. "Freedom and Resentment", in G. Watson, Ed. Free Will (Oxford: Oxford University Press, 1982), 59-80.
Obrigado pela paciência!