segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Entrevista

Alguem chegou a ler esta entrevisat nu site da copesul???

Confiram ai...

Rualdo Menegat
O geólogo Rualdo Menegat , professor do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia do Instituto de Geociências da UFRGS, é o curador do projeto Visões da Terra – entre deuses e máquinas, qual o lugar da humanidade no mundo em que vivemos?, que será inaugurado em agosto, no Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Menegat conversou com a equipe do site Copesul Cultural por e-mail e explicou um pouco mais da exposição que tem como objetivo apresentar as diferentes modalidades cognitivas que a humanidade desenvolveu ao longo da história.


1) Qual é o objetivo principal da exposição Visões da Terra – entre deuses e máquinas, qual o lugar da humanidade no mundo em que vivemos?
O objetivo principal é apresentar ao público as diferentes modalidades cognitivas que a humanidade desenvolveu ao longo da história para entender a Terra e o mundo em que vive. Por meio de catorze módulos, serão abordadas visões que vão desde o mito e as primeiras representações racionais elaboradas pelos gregos antigos até os mais modernos modelos científicos do planeta, feitos por supercomputadores e imagens de satélite. A exposição destina-se a efetuar um diálogo entre as visões, de modo que cada visitante possa elaborar a sua e entender o quanto é importante nos dias atuais termos uma visão da Terra para podermos pensar a sustentabilidade humana, já que somos mais de 6,5 bilhões de habitantes.

2) Como retratar, através de uma exposição, o lugar do homem no mundo?
A idéia de que a humanidade ainda vive dentro de uma natureza de forma ingênua não é mais válida. Trazemos em nossa memória cultural as histórias de nossos avós e bisavós, que viveram numa época em que eles adentravam nas matas e podiam ver antas, leões baios, cotias, capivaras e muitos pássaros. Hoje, mais da metade da população mundial vive em cidades, ou seja, somos mais de 3,5 bilhões de seres humanos urbanos. A relação da humanidade com a natureza dá-se hoje em outra escala, que é aquela das gigantescas cidades, como por exemplo, da megacidade que vai desde Berlim-Amsterdã até Paris-Londres. Nesse curto eixo, moram mais de cem milhões de pessoas. Além da impressionante aglomeração humana, as cidades constituem-se em complexos aparatos tecnológicos e industriais que diariamente consomem milhões de toneladas de materiais extraídos da natureza e devolvem milhões de toneladas de resíduos tóxicos e perigosos. Para mostrar essa nova condição humana que já não tem mais nada a ver com a cultura que herdamos de nossos avós, precisamos da ajuda da ciência e da tecnologia. Por meio de uma impressionante museografia científico-cultural, os visitantes terão acesso a visões do planeta que não são cotidianas, mas que importam para que cada um desenvolva noções de escala e, portanto, possa entender de forma mais realista o lugar da humanidade no mundo em que vivemos. Essa visão científica contemporânea será contrastada com outros tipos de visões, como aquelas do renascimento, quando foi pensada a primeira viagem científica ao centro da Terra, ou quando foi descoberto que o planeta era muito mais antigo do que a idade descrita pelos contos bíblicos. Essas abordagens, embora historicamente datadas, também fazem parte do esforço cognitivo humano para entender o mundo e ainda são, portanto, presentes. Isso porque cada um de nós como indivíduo também passa pelas mesmas fases cognitivas que a humanidade desenvolveu. Na tenra infância temos um tipo de cognição que se aproxima do mito, onde não diferenciamos o eu do mundo. Também em algum momento tivemos dificuldade de entender como é possível caminhar numa Terra esférica sem cair dela. Ou de como se formam vulcões e terremotos. Assim, por meio de técnicas museográficas , vamos reviver os grandes momentos cognitivos da história humana e, ao mesmo tempo, dialogar com os visitantes e suas visões de mundo, que dependem do estágio cognitivo em que se encontram.

3) Quais são os eixos que norteiam o projeto?
Ajudar os cidadãos e cidadãs a construírem uma visão de mundo atual, que possa dialogar com os grandes problemas contemporâneos, como o gigantismo da humanidade urbana, a exaustão incessante dos bens naturais e as mudanças climáticas são eixos norteadores do projeto. Como os cidadãos podem acreditar que a humanidade tem capacidade de alterar a atmosfera se a imaginam como um imenso e infinito colchão de ar sobre suas cabeças? Teremos maior efetividade em mostrar como a humanidade se equiparou a uma força natural quando visualizamos uma imagem da Terra obtida no espaço exibindo a atmosfera como uma película delgadíssima. A exposição, portanto, pretende ser um espaço de discussão de idéias sobre a cognição do mundo. Ela não pretende apresentar uma visão pronta, mas dialogar as formas que temos de perceber o planeta. Isso porque sabemos que, quando tratamos de visões de mundo, cada indivíduo, cada cultura, cada religião tem um ponto de partida diferenciado. A questão atual é saber como podemos convergir esses pontos de vista para que possamos construir uma cultura comum de sustentabilidade planetária. A exposição tem essa ambição: criar um espaço de diálogo transdisciplinar e transcultural, do qual a ciência faz parte.

4) Há alguma relação entre este projeto e o Homem-natureza: cultura, biodiversidade e sustentabilidade, realizado no ano passado em mais uma parceria entre a Copesul e a UFRGS?
A relação que existe é a de que ambos discutem a sustentabilidade, ou seja, colocam uma finalidade para o conhecimento científico para além do atavismo tecnológico. Como sabemos, cada área científica, cada cultura tem um ponto de partida para abordar o problema da sustentabilidade. A bela exposição Homem-natureza abordou o tema sob o importante ponto de vista da biosfera e, de modo mais particular, da botânica. A exposição Visões da Terra aborda a sustentabilidade de um ponto de vista do planeta e suas esferas, desde as mais profundas, como o núcleo e o manto, até as mais superficiais, como a hidrosfera e a atmosfera, de sorte a localizar a biosfera e, nela, a poderosa urbe-tecnosfera, constituída pela cidade-múndi. Além disso, essa visão atual da Terra como sistema de esferas que interagem é colocada dentro de uma perspectiva histórica, epistemológica e cognitiva, de sorte a gerar interfaces interdisciplinares e dialogar profundamente com todas as visões. Assim, esperamos que as visões geológicas da Terra possam ajudar na construção de uma cultura da sustentabilidade.

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