"- Vou aprender a nadar - diz Silvina com a alegria de seus seis anos recém-feitos.
- Vai nadar? -intervém a irmã, três anos mais jovem.
- Não, vou aprender a nadar.
- Eu também vou brincar na piscina.
- Não é o mesmo. Eu vou aprender a nadar, diz Silvina.
- O que é aprender?
- Aprender é... como quando o papai me ensinou a andar de bicicleta. Então... papai me deu uma bici... menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando...
- Eu fico com medo de andar sem rodinhas.
- Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse "assim se anda de bici"..., não, ele ficou correndo ao meu lado sempre segurando a bici... muitos dias e, de repente, sem que eu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao meu lado. Então eu disse: Ah! Aprendi!
- Ah! Aprender é quase tão lindo quanto brincar - respondeu.
- Sabe, papai não fez como na escola. Ele não disse "Hoje é o dia de aprender a andar de bicicleta". Primeira lição: andar direito. segunda lição: andar rápido. Terceira lição: dobrar. Não tinha um boletim onde anotar: muito bem, excelente, regular... porque, se tivesse sido assim, não sei, algo nos meus pulmões, no meu estômago, no coração não me deixaria aprender"
(FERNANDEZ, Alícia, O saber em jogo, Porto Alegre, Artmed Ed., 2001)